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Major da PM preso pelos atos de 8 de janeiro nega acusações: “narrativa inverídica”

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A Câmara Legislativa do Distrito Federal ouviu hoje (03) o Major da Polícia Militar Flávio Silvestre de Alencar, no âmbito da Comissão Parlamentar de Inquérito dos atos antidemocráticos. O militar era responsável por distribuir o efetivo policial no dia 8 de janeiro e foi preso durante a operação “Lesa Pátria” sob suspeita de ter facilitado a entrada de manifestantes nas sedes dos três poderes em Brasília.

Durante o depoimento, o major negou que tenha contribuído de alguma forma para a invasão e depredação dos prédios públicos pelos manifestantes. Silvestre informou à comissão que, durante a invasão, ficou incumbido apenas por empregar as forças policiais disponíveis, mas que não era responsável por coordenar a operação. “Eu não tive acesso aos planejamentos, não faço parte do planejamento. Estive ali, como chefe do 6º BPM, com função de executar”, afirmou.

Ele alegou ainda que foi informado verbalmente que estava escalado para atuar na operação policial apenas na noite da véspera do dia 8. A ordem teria partido de seu superior, o coronel Marcelo Casimiro Vasconcelos Rodrigues. O depoente disse também que não foi informado com antecedência sobre quantos policiais atuariam na operação.

Baixo efetivo policial

Questionado pelo presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT), o militar expôs que o efetivo policial disponível para conter os manifestantes foi insuficiente. “O efetivo era muito pequeno. O total de policiamento que eu recebi era de 311 policiais militares”.

Ele explicou ainda que os agentes disponíveis foram chegando ao longo do dia, não dispondo de todo o efetivo desde o início. “Na parte da manhã, recebi em torno de 100 PMs. Depois chegou mais um efetivo de 178 agentes e, por volta das 15h, mais um grupo de 70 policiais aproximadamente”, explicou.

Ao ser indagado por Vigilante se teria estranhado o baixo efetivo, ele respondeu que confiou no planejamento do seu superior. “Como o coronel Casimiro estava à frente [da operação], eu imaginei: ele deve saber o que está fazendo, pois ele que fez o planejamento e deve ter solicitado os efetivos”, alegou.

O oficial relatou que, ainda no dia 4 de janeiro, já havia o conhecimento por parte de seus superiores de uma imagem que circulava em grupos de mensagens convocando para uma manifestação no dia 8. Ele não soube explicar porque, ainda assim, o efetivo policial foi insuficiente.

Retirada das Viaturas
Um vídeo que mostra o major ordenando a retirada de viaturas do local das invasões justo num dos momentos de maior tensão foi exibido pela comissão. O major justificou sua retirada juntamente de um comboio de viaturas alegando que teriam ido buscar munições de baixa letalidade e também para resgatar colegas feridos dentro dos prédios invadidos.

Ele classificou como ‘uma narrativa inverídica crida por algumas reportagens’ a alegação de que ele teria dado ordem para a retirada das tropas. “Eu não dei a ordem [de retirada]. Eu acenei com a mão para que as viaturas entrassem num comboio para a gente entrar no Congresso e resgatar os policiais feridos”, afirmou.

“Uma mensagem infeliz”
As investigações que resultaram na prisão do major identificaram uma mensagem enviada por ele a um grupo de WhatsApp de policiais militares em que afirma: “na primeira manifestação, é só deixar invadir o Congresso, kkk” [sic].

Indagado sobre o motivo da mensagem, o militar assumiu sua autoria, mas alegou que não teve intenção de estimular alguma invasão ao congresso. “Sim, eu falei mesmo aquela mensagem, uma mensagem infeliz. Porém, o grupo em que foi postada não era um grupo institucional, era um grupo de amigos. A mensagem foi postada em 20/12, nem imaginávamos que haveria o 08/01. O cerne da mensagem era uma brincadeira, uma brincadeira infeliz”, alegou.

O deputado Hermeto (MDB), classificou o depoente como ‘um oficial exemplar’, declarando já ter atuado juntamente com o militar pela PM. “Quem nunca fez um comentário infeliz em algum grupo? Eu não sei por que o senhor está preso”, comentou o deputado dirigindo-se ao depoente. “Aquela imagem do senhor acenando, eu sabia que era para atender outra coisa que estivesse acontecendo, o senhor jamais iria retirar as viaturas para deixar os caras [sic] invadirem”, completou.

O distrital afirmou ainda que quem tem que responder pela atuação da PM nos ataques é o coronel Casimiro, e que a praxe é que as convocações para operações sejam feitas por ordem de serviço, e não de forma verbal, como ocorreu.

O deputado Gabriel Magno (PT) repudiou a alegação de que mensagem do major fosse uma brincadeira. “Com crime não se brinca. Pedir um golpe de estado não é brincadeira em lugar nenhum, nem na intimidade”, afirmou o distrital. Magno falou ainda em um “apagão do dia 08 de janeiro”, alegando que as invasões teriam sido planejadas e que houve permissão para que os manifestantes invadissem os prédios.

“Tentei adiantar a chegada das tropas, mas fui impedido”
Silvestre afirmou que pediu ao coronel Casimiro a antecipação da chegada de forças especiais na operação para 9h, porém, seu superior teria negado o pedido, determinando que os grupos entrassem em atuação apenas às 15h.

“No horário em que os manifestantes furaram a linha de revista, o Coronel me perguntou onde estava o grupo de operações, eu respondi: ‘o senhor mesmo determinou que chegassem às15h, o efetivo não chegou ainda’”, afirmou o major.

Deputados divergem sobre negligência de planejamento da PM
Para o deputado Fábio Félix (PSOL), “existe uma negligência clara no processo de planejamento e execução operacional dessa manifestação como um todo” afirmou. Félix alertou para o fato de que a própria convocação de um major para a atuação em uma manifestação com a envergadura do 8 de janeiro causa estranheza. “O ideal seria que um coronel ou um tenente-coronel estivesse à frente desse tipo de operação”, comentou.

Respondendo ao deputado Pastor Daniel de Castro (Progressistas), Silvestre afirmou que nunca tinha comandado uma operação militar em um evento como o do dia 8 de janeiro e que não se julgava qualificado para operar em eventos como aquele por conta de limitações de sua patente.

Pastor Daniel salientou que, “embora a PM responsável pela segurança na esplanada, a segurança individual dos prédios no quesito parte interna era de responsabilidade de outros órgãos vinculados ao Governo Federal e às Forças Armadas”, comentou.

O distrital criticou ainda o sigilo que teria sido imposto pelo Ministério da Justiça para as imagens do dia do evento. “Estão impedindo a busca da verdade real[…] liberaram golpistas e prenderam inocentes”, alegou. “Se a PM/DF tem responsabilidade porque não controlou os criminosos da Esplanada, o Governo Federal também tem, foi omisso ”, concluiu.

Distritais criticam prisão do militar
O deputado Joaquim Roriz Neto (PL) criticou a prisão do major. “ Estamos na presença de um oficial da PM que tinha o dever de agir em defesa do interessa público, e ele agiu, ele executou sua missão, […] mas como forma de não reconhecimento de seu trabalho, decretaram sua prisão”, afirmou o distrital. Roriz Neto também criticou o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, alegado que ele estaria “escondendo as imagens” dos ataques.

  • O deputado Thiago Manzoni (PL) lamentou a prisão do major Silvestre. “Eu lamento muito que o senhor esteja preso, lamento pela sua esposa e pelo seu filho, mas não há injustiça que dure para sempre. Um dia a justiça chega”, concluiu.

Silvestre se emocionou durante o depoimento e afirmou ao deputado Manzoni que julga estar preso por um grande mal-entendido. “Uma narrativa inverídica foi criada, associada a uma mensagem fora de contexto e uma narrativa de que eu dei uma ordem para a linha de choque recuar e facilitar a entrada de manifestantes ” comentou.

A deputada Paula Belmonte (Cidadania) classificou como “sabotagem” o que teria ocorrido no dia das invasões. “Por que o ministério da justiça está se recusando a entregar as filmagens? O que estão querendo esconder?”, questionou a distrital. Ela elogiou ainda o trabalho da PM/DF e também lamentou a prisão do major. “ Eu sinto muito pelo que o senhor e sua família estão pagando”, comentou.

Gabriel Magno questionou o major sobre o planejamento para as ações do dia 8. “Se houve planejamento, não me entregaram.

  • Fui escalado na véspera verbalmente, não me foi entregue escala e nem ordem de serviço. O comandante da operação era o coronel Casimiro”, reafirmou depoente.

O próximo encontro da CPI será no dia 10 de agosto, com depoimento de Anderson Gustavo Torres, ex-ministro da Justiça Segurança Pública e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal.

Fonte: CLDF

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