A CPI dos atos antidemocráticos ouviu, nesta segunda-feira (9), o major José Eduardo Natale de Paula Pereira, que era coordenador de segurança do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no dia 8/1. Natale foi exonerado do cargo após a divulgação de imagens das câmeras de segurança do prédio, que mostram ele permitindo que os invasores bebessem água. A oitiva foi solicitada pelos deputados Pastor Daniel de Castro (PP) e Chico Vigilante (PT).
O major negou qualquer intenção de facilitar a ação dos invasores e afirmou que “não entregou água aos invasores”, mas apenas permitiu que eles tomassem água com a intenção de “acalmar os ânimos”.
“Eles estavam bastante hostis, se eu negasse a água, a situação poderia se inflamar, ele [um dos manifestantes] estava a uma porta do gabinete presidencial. O esforço foi para diminuir os ânimos e dispersar o local”, declarou Natale.
O major narrou que, a partir do momento em que os invasores tomaram o Planalto, retirou sua arma com o intuito de “preservar vidas” e passou a negociar verbalmente pedindo que deixassem o local. Ele contou ainda que alguns mais exaltados pediam que ele indicasse onde ficava a sala presidencial, mas que conseguiu despistá-los.
Sobre não ter dado voz de prisão aos manifestantes, o depoente destacou que estava sozinho no primeiro momento e que a estratégia de negociação teria sido a forma mais eficaz de dispersar os manifestantes e preservar o patrimônio público. “Eu estava sozinho, caso desse voz de prisão a algum manifestante mais alterado, teria que retirá-lo e o único agente do GSI presente, que era eu, iria abandonar a posição”, declarou.
O depoente lembrou que os cargos de decisão do GSI foram mantidos no atual governo porque a função exige uma capacitação militar específica que dura alguns anos para ser concluída, e que a troca completa do quadro poderia comprometer a segurança institucional da presidência. Natale afirmou ainda que sua atuação no 8/1 já foi alvo de investigação completa pela Polícia Federal, inclusive com quebra de sigilo, e que nenhuma atitude ilegal foi identificada.
O major foi nomeado para o GSI em 2021, ainda durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro e sob comando do general Augusto Heleno, e foi exonerado logo após os ataques, já no governo Lula, em 2023, tendo como chefe o general Gonçalves Dias.
“Achávamos que seria um domingo como outro qualquer”, diz Natale
Major Natale relatou que não recebeu de suas instâncias superiores no GSI informações acerca da possibilidade de invasão do prédio do Palácio do Planalto. Ele não respondeu aos distritais sobre possível inoperância do comando do gabinete, afirmando que sua atuação era estritamente operacional e que não participava das reuniões do alto comando.
“Não havia uma operação de segurança montada, era um domingo como outro qualquer. Pelas informações que nós tínhamos, até pelo que o general Penteado já disse a essa CPI, a manifestação ficaria concentrada na praça dos cristais e seria de pequeno vulto”, disse o depoente.
O deputado Pastor Daniel de Castro (PP) questionou novamente a ação do ex-comandante do GSI, general G Dias, que teria represado informações prestadas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e pela Agência Brasileira de Inteligência (ABIN). A não divulgação das informações, segundo pastor Daniel, foi culminante para a invasão do planalto. “A sociedade brasileira já sabe que o ministro responsável pela segurança institucional omitiu os alertas recebidos pela ABIN”, declarou o distrital. Daniel criticou ainda o adjetivo de “terroristas” utilizado pelo deputado Chico Vigilante para classificar os invasores.
O deputado Thiago Manzoni (PL) classificou como “uma emboscada” às equipes operacionais do próprio GSI o represamento, por G. Dias, das informações que vieram da ABIN. O distrital também atribuiu ao ex-GSI a culpa pela invasão. “No Palácio do Planalto tem um responsável, que é o general do Lula”, declarou o deputado.
Belmonte fala em infiltrados
A deputada Paula Belmonte (Cidadania) disse que, para ela, “está claro que havia infiltrados”. A distrital reproduziu uma entrevista do presidente Lula, de janeiro deste ano, em que ele afirmou acreditar que “alguém abriu as portas do Planalto”. Segundo a distrital, esta seria mais uma das provas de que os atos de vandalismo não foram praticados por patriotas, mas por pessoas infiltradas nas invasões.
A distrital ressaltou ainda uma fala do próprio depoente, que classificou os invasores em três grupos: pessoas que permaneceram em estado de choque, sem agir; pessoas que depredavam o prédio e atacavam a polícia; e um terceiro grupo que tentava conter os vândalos. Segundo Belmonte, há pessoas do terceiro grupo presas de forma injusta. “Uma parte estava fazendo escudo para que os infiltrados não atacassem a polícia militar”, afirmou a parlamentar.