Em uma sessão tumultuada e marcada por muito bate-boca, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia do Senado ouve nesta quarta-feira (29) o empresário Luciano Hang. Em sua fala inicial, ele rechaçou o rótulo de negacionista.
“Não sou negacionista. Nunca neguei ou duvidei da doença [covid-19]. Tanto que minhas ações não ficaram só no discurso. Mandei 200 cilindros de oxigênio para Manaus, no valor de R$ 1 milhão. Respiradores, máscaras, camas, utensílios. Não sou nem nunca fui contra vacina. Tanto que disponibilizei todos os nossos estacionamentos como pontos de vacinação. Além disso, juntamente com outros empresários, fizemos campanha para que a iniciativa privada pudesse comprar [vacinas] para doar e ajudar o país a acelerar o processo de imunização”, afirmou.
Aos senadores, o empresário disse ainda que é “acusado sem provas e perseguido” por expressar opiniões. Hang acrescentou que não conhece e não faz parte de um suposto gabinete paralelo – formado por pessoas que teriam aconselhado o presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia – e negou ter financiado esquemas de fake news.
Ainda em sua fala inicial, o depoente, investigado por disseminar notícias falsas, disse que deseja apenas exercer seu direito de “liberdade de expressão”. “O que eu peço pro Senado é que me deixem falar. Hoje eu vim aqui com tempo, a minha agenda está aberta aos senadores. Mas também quero tempo para poder dar a minha resposta. Talvez hoje seja o melhor dia da CPI. Vamos manter a nossa fala tranquila. Quem tem argumentos não precisa aumentar a voz”, ressaltou.
Regina Hang
À CPI, o empresário disse que desde 2018 é um “ativista político”. Ele acrescentou que o nome de sua mãe, Regina Hang, de 82 anos, que morreu em fevereiro depois de ser internada com covid-19, foi utilizado de forma “vil” e “política”.
A mãe de Hang foi tratada no Hospital Sancta Maggiore, da rede da operadora Prevent Senior. A empresa é investigada pela CPI por supostamente ter imposto aos seus médicos que prescrevessem a seus pacientes o tratamento com medicações sem comprovação científica para tratamento da covid-19. Segundo denúncias levadas à CPI, no atestado de óbito da idosa não há nenhuma menção ao novo coronavírus, contrariando recomendação expressa do Conselho Federal de Medicina (CFM).
O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL) levantou a suspeita de que a omissão por parte de Hang esteja relacionada à tentativa de não desqualificar o chamado “tratamento precoce”, do qual o empresário é defensor. “É duro para mim ver a morte da minha mãe sendo usada politicamente, de forma baixa e desrespeitosa. Não aceito desrespeito a morte da minha mãe. Tenho consciência de que como filho sempre fiz o melhor por ela”, ressaltou Hang.
“O senhor é que trouxe o debate falando, suas palavras são claras: ‘se minha mãe tivesse usado o tratamento precoce, talvez ela teria sido salva’. Não fomos nós que trouxemos sua genitora para esse debate”, reagiu o presidente do colegiado, senador Omar Aziz (PSD-AM).
Hang ressaltou que a mãe dele foi diagnosticada com covid-19 no dia 28 de dezembro de 2020 e, até dia 1º de janeiro de 2021, recebeu o “tratamento precoce/inicial, em casa”. Na versão dele, como a situação da paciente, que tinha comorbidades, piorou e ela chegou a ficar com 95% do pulmão comprometido, o empresário decidiu pela internação na Prevent Senior após recomendações de amigos.
O empresário defendeu o uso de medicação sem eficiência comprovada e, sem sucesso, sob críticas de parlamentares independentes e de oposição ao governo, quis convencer a cúpula da CPI de que há diferença entre tratamento precoce e preventivo. O primeiro, disse, é feito na fase inicial da doença e o segundo, realizado antes do contato com o vírus. Ainda de acordo com o depoente, Regina Hang não teria tomado os medicamentos “preventivos” antes de ser acometida. Na avaliação dele, se a medida tivesse sido tomada, talvez ela estivesse viva.
Fonte: Agência Brasil